Destituídas das formalidades prescritas pela língua escrita, as palavras de origem africana que identificamos no nosso vocabulário ocupam outros universos ordinários, aqueles que se referem à comunicação mais direta e aos níveis menos especializados do exercício linguístico.
Assim, nomeiam as expressões mais informais para a denominação de excrementos (catinga, catota, xixi, meleca), depreciativos e alcunhas difamatórias (babaca, brucutu, coroca, mondrongo, sacana, fuleiro, ranzinza, tribufu, cotó), a genitália e a sexualidade nas suas formas mais “chulas” (bimba, bunda, cabaço, cacete, xereca, xibiu, xota, xoxota, fiofó, siririca), estando presentes também naquilo que o senso comum entende como gíria (titica, babáu, bambambã, beleléu, biboca, galalau, lelé, lengalenga, fuzuê) e mesmo na denominação de algumas doenças (caxumba).
Sempre no reino da informalidade, outro aspecto importante a assinalar é que as palavras de origem africana que constituíram o português falado no Brasil se referem a formas de tratamento que denotam relações de proximidade e respeito, quiçá de carinho (mano, xodó, babá, iaiá), expressas na forma de substantivos (cafuné, dengo) e de verbos (paparicar, nanar). Evidentemente os exemplos não param aí.
As palavras de origem africana invadem igualmente os reinos da gastronomia (vatapá, canjica, cachaça, caruru, moqueca, sarapatel, munguzá, fubá) da toponímia e da antroponímia alagoana (Cambona, Quitunde, Sabalangá, Dandara, Zumbi); da fauna e da flora (angico, andu, jiló, caboje, calango, catenga, marimbondo) e mesmo o curioso campo das denominações identitárias elas visitam (cafuzo, cambembe, mazombo, matuto).
Segue a seguir uma lista de algumas palavras de origem africana muito usadas no nosso dia-a-dia:
abará: bolinho de feijão.
acará: peixe de esqueleto ósseo.
acarajé: bolinho de feijão frito (feijão fradinho).
agogô: instrumento musical constituído por uma dupla campânula de ferro, produzindo dois sons.
angu: massa de farinha de trigo ou de mandioca ou arroz.
banto: nome do grupo de idiomas africanos em que a flexão se faz por prefixos.
batuque: dança com sapateados e palmas.
banguela: desdentado.
berimbau: instrumento de percussão com o qual se acompanha a capoeira.
búzio: concha.
cachaça: aguardente.
cachimbo: aparelho para fumar.
cafundó: lugar afastado, de acesso difícil.
cafuné: carinho.
calombo: quisto, doença.
camundongo: rato.
Candomblé: religião dos negros iorubás.
candonga: intriga, mexerico.
canjerê: feitiço, mandinga.
canjica: papa de milho verde ralado.
carimbo: instrumento de borracha.
catunda: sertão.
caxambu: grande tambor usado na dança harmônica.
caxumba: doença da glândula falias.
chuchu: fruto comestível.
dendê: fruto do dendezeiro.
dengo: manha, birra.
Exu: deus africano de potências contrárias ao homem.
fubá: farinha de milho.
inhame: planta medicinal e alimentícia com raiz parecida com o cará.
Iemanjá: deusa africana, a mãe d’ água dos iorubanos.
jiló: fruto verde de gosto amargo.
macumba: religião afro-brasileira.
maracatu: cortejo carnavalesco que segue uma mulher que num bastão leva
umabonequinha enfeitada, a calunga.
marimbondo: o mesmo que vespa.
maxixe: fruto verde.
miçanga: conchas de vidro, variadas e miúdas.
milonga: certa música ao som de violão.
mandinga: feitiçaria, bruxaria.
molambo: pedaço de pano molhado.
mocambo: habitação muito pobre.
moleque: negrinho, menino de pouca idade.
muamba: contrabando.
munguzá: iguaria feita de grãos de milho cozido, em caldo açucarado, às vezes com leite de coco ou de gado. O mesmo que canjica.
muxiba: carne magra.
Ogum ou Ogundelê: Deus das lutas e das guerras.
Orixá: divindade secundário do culto jejênago, medianeira que transmite súplicas
dos devotos suprema divindade desse culto, ídolo africano.
quenga: vasilha feita da metade do coco.
quiabo: fruto de forma piramidal, verde e peludo.
quibebe: papa de abóbora ou de banana.
quilombo: valhacouto de escravos fugidos.
quitanda: Pequeno estabelecimento onde se vendem frutas, legumes, cereias, etc.
quitute: comida fina, iguaria delicada.
samba: dança cantada de origem africana de compasso binário (da língua de
Luanda, semba = umbigada).
senzala: alojamento dos escravos.
tanga: pano que cobre desde o ventre até as coxas.
tutu: iguaria de carne de porco salgada, toicinho, feijão e farinha de mandioca.
vatapá: comida.
zumbi: fantasmas.