História da Língua Árabe

História da Língua Árabe

O árabe (العربية, transl. al-ʿarabiyyah) é uma língua semita central, parente próximo do hebraico e das línguas neo-aramaicas. A língua árabe tem mais falantes do que qualquer outro idioma na família linguística semita, e é falada por mais de 280 milhões de pessoas como língua materna no Oriente Médio, Sudoeste Asiático e Norte da África.

O árabe é responsável pelo empréstimo de diversas palavras a outros idiomas falados no mundo islâmico, como o turco, o urdu e o persa. Durante a Idade Média o árabe foi um importante veículo de cultura na Europa, especialmente na ciência, matemática e filosofia, e como tal acabou por influenciar igualmente diversas línguas faladas naquele continente. Entre os muçulmanos, o árabe é considerado a língua sagrada por ter sido nela revelado o Alcorão.

A partir do ano 622 d.C o mundo observou uma grande expansão do Islã como uma religião dominante de extensas regiões e onde o árabe começou a se tornar a língua viva mais difundida do tronco das línguas semíticas.

A língua árabe é usada por quase meio bilhão de pessoas, em vários países do mundo. Desse total, mais de cem milhões constituem o povo árabe e quatrocentos milhões, de outros países, leem e escrevem o árabe erudito por motivos religiosos, pois o Alcorão é redigido nesse idioma.

O árabe erudito (ou padrão) é a linguagem dos discursos oficiais e principalmente de toda a escrita, inclusive para fins privados.

O primeiro texto escrito em árabe foi descoberto em gravações em pedras (Al manara) na Síria e remota ao ano de 328 a.C.

Ela faz parte do grupo das línguas semíticas em seu ramo meridional-central, ou seja, está relacionado com o hebraico falado em Israel, o amárico falando na Etiópia e com outras línguas semíticas conhecidas. As primeiras evidências conhecidas em árabe foram encontradas na Península Arábica e datam do início do século IV d.C, ainda que muitos pesquisadores afirmem que a língua árabe tenha surgido apenas no século V.

Entre os povos árabes, a língua é considerada o maior elo que os une e é utilizada como língua litúrgica dos muçulmanos na Turquia, Irã, Afeganistão, Paquistão, Indonésia, das regiões subsaarianas da África, Cazaquistão, Quirguistão, Turcomenistão e Uzbequistão.

Clássico, Moderno e Coloquial

O termo árabe costuma designar uma das três principais variantes do idioma: Árabe Clássico ou erudito, Árabe Moderno padrão, e Árabe Coloquial ou dialetal.

O Árabe Clássico (ou erudito) é a língua usada no Corão, e utilizada a partir do período da Arábia pré-islâmica até o Califado Abássida. Também é considerado a língua sagrada do Islã e língua franca entre os falantes cultos em todo o mundo árabe. O Árabe Clássico é considerado normativo; autores modernos tentam seguir as normas sintáticas e gramáticas definidas pelos gramáticos clássicos, como Sibawayh, e usar o vocabulário definido nos dicionários clássicos, como o Lisān al-Arab.

Árabe Coloquial ou dialetal se refere às diversas variantes nacionais ou regionais que formam a língua oral. O Árabe Coloquial é composto por estas diversas variantes, que por vezes são diferentes a ponto de serem mutualmente ininteligíveis, e muitos linguistas as consideram idiomas distintos. Os diversos dialetos e variantes do Árabe Coloquial dependem principalmente da origem de seus falantes e geralmente, recebem o mesmo nome das áreas geográfica onde são falados.

O termo Árabe Coloquial se refere a língua que se escuta tanto no rádio e na televisão, como nas cidades, mesquitas e no comércio em geral.

Estas variantes quase nunca costumam ser escritas, e são utilizadas na mídia falada informal, como telenovelas e talk shows, bem como em algumas formas de mídia escrita, como poesia ou publicidade. A única variante do Árabe Moderno a ter adquirido status oficial é o maltês, falado na ilha predominantemente católica de Malta, e escrita com o alfabeto latino; o maltês descende do Árabe Clássico através do sículo-árabe, e não é mutualmente inteligível com as outras variedades do idioma. A maior parte dos linguistas o classifica como um idioma separado, e não como um dialeto do árabe. Historicamente, o árabe argelino era ensinado na Argélia francesa, com o nome de darija.

Como outros idiomas, o Árabe Padrão moderno continua a evoluir. Diversos termos modernos passaram a ser usados comumente, muitas vezes extraídos de outros idiomas modernos (por exemplo فيلم, film, “filme”), ou cunhados a partir dos recursos léxicos já existentes (como por exemplo هاتف, hātif, “telefone” “aquele que grita”, “aquele que chama”).

Dentro das classificações, também há diferenças entre os falantes urbanos, rurais e nômades. E normalmente, os que apresentam maior variação são aqueles povos que vivem em ilhas, ainda que apresentem a mesma versão linguística.

O dialeto mais amplamente compreendido é o dialeto egípcio por seu grande número de filmes e seriados produzidos para a TV e sua variada quantidade de cantores e seus vídeos largamente divulgados pela internet e televisão.

Diglossia

A diferença entre o Árabe Padrão Moderno e o Árabe Coloquial (diferença entre falar e escrever, portanto) é chamada de Diglossia, ou seja, duas línguas ou registos linguísticos funcionalmente diferenciados coexistem, sendo que o uso de um ou de outro depende da situação comunicativa.

Fonética

O Árabe Clássico possui basicamente três vogais: a [a], i [i] e u [u]. Cada uma delas pode ser breve ou longa, resultando na distinção de seis valores vocálicos distintos: a [a], i [i], u [u], ā [a:], ī [i:] e ū [u:]. Na fala, a vogal a pode ser realizada de uma maneira que se aproxima da pronúncia de um e [ɛ] ou de um o [ɔ], de acordo com as consoantes vizinhas. A variação em direção ao e é mais efêmera, enquanto a variação em direção ao o é mais sistemática, ocorrendo sempre na proximidade de um q ou de uma das consoantes chamadas “enfáticas”. Esta variação é considerada obrigatória por alguns autores.

Exemplos:

kalbu, pron. [‘kalbu], também [‘kælbu] “cachorro”
rajulu, pron. [‘ɾadʒulu], também [‘ɾædʒulu] “homem”
qaṣru, pron. [‘qɑsˁɾu], também [qɔsˁɾu] “castelo”

As vogais longas devem ser pronunciadas de maneira bem distinta das vogais breves, pois a diferença entre breve e longa é fundamental para a estrutura das palavras e para o ritmo da língua.

A vogal final breve -u, que aparece em substantivos e adjetivos, é pronunciada apenas no Árabe Clássico. A não ser em raras circunstâncias, esta vogal não aparece no Árabe falado atualmente.

Uma grande parte das consoantes utilizadas no Árabe são idênticas às do Português:

ConsoanteIPACorrespondente em Português
b[b]b (“baba”)
t[t]t (“tato”)
d[d]d (“dado”)
z[z]z (“azul”), s (“asa”)
s[s]ss (“assim”), ç (“peça”)
š[ʃ]ch (“chá”), x (“eixo”)
f[f]f (“fofo”)
q[q]q (“queijo”)
k[k]c (“caco”)
lll (“lula”)
m[m]m (“mimo”)
n[n]n (“nona”)

O r do árabe assemelha-se a um dos sons usados para a letra r em português. Deve-se notar que, em árabe, o r deve ser pronunciado sempre da maneira indicada (“prato”, “arara”). Muito cuidado deve ser tomado para não confundir este som com os sons aspirados, indicados a seguir.

Existem três sons aspirados em árabe, que se assemelham ao h do inglês, ao j do espanhol ou ao r inicial do português de alguns dialetos.

  • O primeiro, indicado pelo símbolo h (IPA [h]), é uma aspiração simples, suave, correspondendo à passagem livre do ar pelas cordas vocais, gerando um som semelhante ao de um assopro.
  • O segundo, indicado pelo símbolo (IPA [ħ]), é produzido de maneira semelhante ao anterior, mas gerando uma leve fricção na parte profunda da garganta (na base do pescoço).
  • O terceiro, indicado pelo símbolo (IPA [x]), é produzido por uma fricção no mesmo ponto em que é articulada a letra k (IPA [k]). Por isso mesmo, muitas vezes esse som é representado pela combinação kh, pois também pode soar como uma letra k seguida por uma aspiração simples (h).

Não existe correspondência exata desses sons em português, visto que a pronúncia aspirada do r, que ocorre em vários dialetos, apresenta variação livre, indo de uma aspiração simples ([h]) a uma fricativa velar ([x]).

ConsoanteIPADescrição aproximada
h[h]Aspiração suave, praticamente um “sopro”
[ħ]Aspiração com leve fricção no “fundo” da garganta
[x]Fricção “desagradável” no mesmo ponto de articulação do k

Gramática árabe

Todo o processo de formação de palavras dentro do árabe se baseia em uma mera abstração, a raiz, que em termos gerais é formada por três consoantes. Esses sons se unem a determinados padrões vocálicos para formar os pronomes simples e os verbos, aos quais são adicionados prefixos que geram as derivações mais complexas.

Formação das palavras – Sistema de Raízes

Um das coisas mais importante a saber sobre a língua árabe é que ela é baseada no chamado “sistema de raiz consonantal,” o que significa que quase todas as palavras na língua é em última análise, derivado de uma ou outra “raiz”, geralmente um verbo. Esta raiz quase sempre consiste de três letras. Ao fazer alterações nas letras de raiz, adicionando uma letra para o início da raiz, mudando as vogais entre as consoantes, ou a inserção de consoantes extras, palavras novas com novos significados são produzidos.

Por exemplo, as três consoantes D-R-S, combinados nessa ordem denota a ideia de ensino. A simples palavra com base nessas cartas é “darasa“, que significa “estudo”. Outras palavras possíveis derivadas desta raiz são:

darrasaensinou
diraasaestudar
madrasaescola
mudarrisprofessor (m)
mudarrisaprofessora (f)

Por exemplo, o termo bank, que é uma palavra nova, emprestada de outra língua, tem por raiz o grupo consonantal B-N-K, o mesmo ocorre com film que se forma com a raiz F-L-M. Para conjugar os verbos e alterar sua raiz existe um sistema uniforme que serve para indicar as variações de significado, tanto que os dicionários se referem aos verbos a partir do número que possuem no sistema (de I até IX).

Por exemplo, a partir da raiz K-S-R, a forma I do verbo é kasar “ele quebrou”, a forma II é kassar “ele quebrou em pedaços”; e a forma VII é inkasar, “ele desintegrou-se”. A formação dos pronomes e adjetivos é mais variada pois tem padrões diferentes para o plural.

Os chamados plurais fragmentados se forma ao trocar a configuração da sílaba interna do pronome no singular. Por exemplo, no caso das palavras bank e film seus plurais respectivos são as palavras bunukaflam. Em sua norma linguística, a ordem das palavras na oração segue a estrutura: verbo-sujeito-objeto. Em poesias e em certos estilos de prosa, essa ordem pode ser alterada; quando isso acontece, o sujeito se distingue o objeto através das desinências de caso, quer dizer, pelos sufixos que indicam a função sintática dos pronomes.

Esses sufixos são escritos corretamente em textos escolares e no Alcorão para assegurar uma leitura absolutamente correta, sem possibilidades de interpretação variada. Nos demais textos árabes, as terminações de casos (normalmente vocais breves) se omitem, e são marcados da mesma forma que todas as vogais breves interiores.

A escrita árabe não tem letras para esses vogais, em seu lugar, existem pequenas marcas situadas em cima ou embaixo das consoantes. Existem dois tempos verbais, o perfeito e o imperfeito, e três casos para a declinação, nominativo, acusativo e genitivo.

Escrita árabe

A língua árabe antiga era escrita em caracteres “musnadi” e “tamudi” , até passar a ser usada a escrita da caligrafia dos Nabateus com a difusão da língua árabe moderna. As gravações mais antigas desta caligrafia foram encontradas na Síria, são as chamadas gravações de “Al Namara”.

O alfabeto árabe possui 28 letras, e é escrito da direita para a esquerda, interligando as letras, com espaçamentos entre as palavras.

No período pré-Islâmico a escrita do árabe foi diferente da atual, usando outras caligrafias modernas da língua de “Mudar” como a caligrafia Al-Hiri e Al-Anbari, e quando do surgimento do islamismo a escrita usada em “Quaraysh” era a Nabatéia, a mesma usada pelo profeta Maomé para escrever aos reis e governadores da época, no entanto, a escrita Nabatéia e a Árabe Moderna possuem importantes diferenças. As mais antigas gravações descobertas neste estilo Nabateu foram as gravuras de “zeid” e “Omm AL Jamal” que datam dos anos 513 e 568 d.C.

Com o aparecimento do Islamismo, a língua árabe passou por um intenso desenvolvimento, especialmente no governo Omíada, quando “Abo Aswad Al-Dwali” iniciou a pontuação da escrita, que até então não existia. O Califa Abdul Malek Bin Arwan, ordenou a acentuação da escrita, portanto, foi convencionado o ponto acima da letra como sendo “fatha”, abaixo “Kassra” e à esquerda “Dammah”. Com o desenvolvimento da acentuação, convencionou-se a letra “Alef” ( ا ) pequena sobre a letra como sendo “fatha”, a letra “Yah” (ي) pequena para “kassra” e a letra “waw” (و) pequena para “Dammah”, e assim, até a evolução da escrita para como é hoje.

A escrita árabe, que procede do arameu, é feita da direita para a esquerda e os livros são lidos detrás para frente. A escrita é baseada em 18 figuras distintas que variam segundo suas conexões com a letra precedente ou seguinte. Graças à uma combinação de pontos em cima e em baixo dessas figuras, são formadas as 28 consoantes, que com as três vogais longas permite escrever corretamente. O alfabeto árabe, que é o segundo sistema de escrita mais utilizada do mundo, foi adotado por outras línguas não semíticas como o persa moderno, o urdu, o malaio, o turco (até 1921) e algumas línguas da África Ocidental como o Hauçá.

O uso da escrita dos versos do Alcorão como elemento decorativo por cerca de 1.400 anos desenvolveu muitos estilos caligráficos diferentes. A caligrafia é uma arte muito importante para os árabes.

A extensa história da língua árabe supõe períodos de grande interesse no mundo da literatura. O árabe que era escrito na Idade Média denomina Árabe Clássico que precedeu o Moderno, sem dúvida, resulta evidente influências estilísticas do francês e do inglês, isso pode ser observado em sua Literatura.

Porém, o árabe também emprestou diversas terminologias à outras línguas, como é notado no espanhol e no português. Veja essa lista de palavras de origem árabe no português.

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