Segundo a série literária Contos e Lendas de Portugal, da pesquisadora Natércia Rocha, um golpe aplicado no século XIX foi o responsável pela má fama dos vigários. Alguns malandros chegavam a cidades desconhecidas e se apresentavam como emissários do vigário. O grupo afirmava que tinham uma grande quantia de dinheiro numa mala que estava bem pesada e que precisaria guardá-la para continuar viajando.
Mas, como garantia, solicitavam aos moradores da cidade uma quantia de dinheiro para viajarem tranquilos. E assim desapareciam. Quando a população abria a maleta descobria um monte de bugigangas sem valor. E assim, a fama do vigária era manchada.
Fernando Pessoa e a sua versão……
Teria sido o poeta português Fernando Pessoa quem, pela primeira vez, explicou a expressão conto do vigário. Seu comentário aparece em uma crônica publicada no jornal “O Sol”, em 1926, sobre a façanha de um pequeno proprietário rural chamado Manuel Peres Vigário. Ele teria comprado animais para a sua fazenda e pago aos negociantes de gado com notas falsas de 100 mil réis, episódio que ficou conhecido como os contos de réis do Manuel Vigário e mais tarde apenas como os contos do Vigário.
Outra hipótese sobre as origens da expressão, apresentada pelo autor, parte da própria figura religiosa do vigário. No final do século XIX e início do XX operou na Espanha, em Portugal e no Brasil uma quadrilha que enviava cartas a famílias abastadas relatando passagens dramáticas e comoventes e, no meio de tanto choro, informava que havia uma herança vultosa em seu nome.
Tudo isso com a chancela de um idôneo religioso, os devidos selos e carimbos, aparentando autenticidade. No Brasil, há pelo menos três registros documentados de pessoas que receberam a tal correspondência, todas assinadas pelo vigário espanhol Manuel Suarez Lopes, da suposta Iglesia Parroquial de Santa Maria, na província de Pamplona, na Espanha. Para cuidar dos trâmites legais do testamento, os beneficiados mandavam um valor em dinheiro. E nunca mais ouviam falar do tal religioso.
Em um relato da época pode-se ler: “O conto do vigário é um laço armado com habilidade à boa-fé do próximo ambicioso. É o caso em que os espertos se fazem de tolos e o tolo quer ser esperto”.