A associação das palavras rival, “competidor, concorrente”, e rio, “curso de água”, é uma dessas surpresas saborosas que a etimologia nos reserva.
Rival vem do de Rivales, em latim, que gerou os nossos rival e rivalidade, era o coletivo que se referia a pessoas ou povos que dependiam de um mesmo rio (rivus, também em latim) para beber.
O parentesco existe desde o latim clássico: rivus, “ribeiro, arroio, regato”, substantivo no qual o português foi buscar o vocábulo rio, deu origem da forma mais prosaica possível ao adjetivo rivalis. Este tinha o sentido primeiro de “relativo a ribeiro, que está à margem dele; ribeirinho”.
Também de forma natural, não demorou a aparecer uma extensão semântica: o plural rivales designava, segundo o dicionário Saraiva, “os que têm direito em comum ao uso de uma corrente d’água”. Ou seja, nos inúmeros casos em que os rios e riachos demarcavam propriedades, o vizinho da margem de cá e o vizinho da margem de lá eram chamados rivales. Esse sentido se manteve em português, mas apenas numa restrita acepção jurídica de rival: “sujeito que possui, juntamente com outro, a posse das águas de um rio”.
É claro que muitas vezes tal convivência não é pacífica. Estava estabelecido, assim, o quadro em que logo uma nova expansão de sentido, dessa vez figurada, transformaria rivalis em sinônimo de oponente, êmulo, competidor – sobretudo em questões de amor, com a mulher fazendo o papel de riacho de águas compartilhadas naquilo que o Houaiss chama de “metáfora tomada da linguagem rústica”.