Revolução Francesa

Significado de “Sair à Francesa”

“Sair à francesa” é uma expressão com significado semelhante aos dos nossos tradicionais “sair de mansinho”, “sair de fininho” e “tirar o time de campo”, ditos populares usados pelo povo para indicar que alguém se retirou de algum lugar sem dar ao menos um “até a próxima”, ou mesmo um simples “tchau” como despedida.

Segundo os linguistas  a frase original, digamos assim, provavelmente já tenha mais de duzentos anos bem vividos, embora até hoje sua verdadeira idade e origem permaneçam incertas.

Algumas versões procuram explicá-la de uma ou outra forma, como, por exemplo, na lembrada por Luis da Câmara Cascudo em Locuções Tradicionais do Brasil (Provérbios Históricos e Locuções Populares, de Francisco Mendes Paiva, edição de 1879), onde é dito que ao considerarmos o fato de que o vocábulo franquia, cujo sentido original é o de imposto de saída, tem a mesma origem de francês, poderemos imaginar que a locução sair à francesa seja uma modificação de sair franco.

Nas palavras do próprio autor, trata-se de “… uma alusão à mercadoria que uma vez franqueada, não se demora para conferências e pagamentos de impostos. Esta etimologia pode razoavelmente ser aplicada à frase proverbial e explicá-la satisfatoriamente”.

Por sua vez, Orlando Neves (1935-2005), poeta e colecionador de frases, natural de Portalegre, Portugal, explica em seu Dicionário das Origens das Frases Feitas, com cerca de 9.000 verbetes colecionados ao longo de muitos anos de pesquisa:

“Nem sempre despedirem-se as pessoas umas das outras, em qualquer reunião, foi considerado cortesia, educação, delicadeza. Em França, no século 18, quem, pretendendo abandonar uma sala repleta de gente, fosse despedir-se dos convivas cometia um ato importuno, ao incomodar pessoas embrenhadas em conversas, passatempos, jogos ou amores agradáveis. Daí que se “saísse à francesa”, isto é, sem cerimônia, sem aviso prévio, sem dar conhecimento a ninguém. O costume generalizou-se por toda a parte, até que, mais tarde, veio a adquirir um sentido oposto, ou seja, de descortesia e falta de educação”.

Deonísio Silva, escritor e professor universitário, explica de forma assemelhada a origem da expressão:

“O significado desta frase é sair de uma festa ou cerimônia sem se despedir. Pode ter origem em costume francês ou na expressão “saída franca”, indicando mercadorias sem impostos, que não precisam ser conferidas. Como os franceses primam justamente pela etiqueta, não concordaram com a frase e a mudaram para “sair à inglesa”. Alguns pesquisadores situam o surgimento da expressão na época das invasões napoleônicas na Península Ibérica (1810-1812), mas o escritor português Nicolau Tolentino de Almeida (1740-1811), cuja poesia satírica visava aos usos e costumes de Lisboa, registrou-a muito antes nestes versos: “Sairemos de improviso/ despedidos à francesa”.

Uma outra explicação sugere que ela tenha surgido durante a Guerra dos Sete Anos (1756-1763), quando França e Inglaterra disputaram o controle comercial e marítimo das colônias das Índias e da América do Norte, e caracterizada pelas sucessivas derrotas francesas na Alemanha, no Canadá (queda de Québec e Montreal) e na Índia. Supõe-se que a frase tenha nascido nessa época, uma espécie de gíria militar cujo alvo eram os soldados que abandonavam seus postos sem qualquer comunicação a seus companheiros ou superiores.

Diz-se que, na época, os ingleses criaram a frase “sair à francesa”, para humilhar os franceses, e que estes rebateram com um “sair à inglesa”, provavelmente porque seus adversários procediam da mesma forma que eles. Mas isso são apenas conjecturas…

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