Os islandeses não possuem sobrenomes. Ao invés disso, eles utilizam o nome de seu pai e adicionam “son” para homens e “dóttir” para as mulheres.

Halldorsson, Gunnarsson, Sigurdsson, Bjarnason… os jogadores da Islândia cujo sobrenome termina em “-son” constituem uma esmagadora maioria na lista oficial da seleção nórdica para este Mundial da Rússia de 2018. Entre os 23 jogadores e o treinador, há apenas um cujo sobrenome não acabe assim, o goleiro reserva Frederik Schram. E isso tem uma explicação clara: ele nasceu e cresceu na vizinha Dinamarca.

Mas, por que na Islândia os sobrenomes acabam em “-son”? A razão se encontra no fato dos sobrenomes islandeses serem formados pelo nome do pai (no gerúndio) acompanhados desta terminação. Por exemplo, os filhos de Albert Gudmundsson, um dos jogadores da equipe islandesas, teriam como sobrenome “Albertson”. Isso no caso de filhos do sexo masculino, porque se forem do sexo feminino o nome do pai será acrescido do sufixo “-dóttir”.

Isso não ocorre apenas com o nome do pai, os sobrenomes formados a partir do nome da mãe também são aceitos legalmente no país. Nos últimos anos isso te ocorrido com mais frequência, em razão do aumento dos casos de mães solteiras.

Este é o sistema onomástico

Sistema onomástico é o conjunto de regras legais ou consuetudinárias (da tradição) que um país (ou uma cultura) adota para dar nomes às pessoas e às coisas. Falaremos um pouco dos antropônimos a seguir.

A Islândia adota um sistema quase que puramente patronímico, ou seja, o “sobrenome” do filho faz referência ao prenome do pai:

  • “Samúel Friðjónsson” significa que Samúel é filho de Friðjón.
  • “Aron Gunnarsson” significa que Aron é filho de Gunnar.

Se Samúel tiver um filho chamado Gunnar, o nome completo dele será “Gunnar Samuelsson”. Se Aron tiver um filho chamado Friðjón, o nome completo dele será “Friðjón Aronsson”.

Se for uma menina chamada Sigríður filha de Samuél, será “Sigríður Samúelsdóttir”. Se for filha de Aron, “Sigríður Aronsdóttir”.

Notem que “-son” está para “filho” e “-dóttir” está para filha, cognatos das palavras inglesas “son” e “daughter”.

E qual é a peculiaridade da Islândia? É o único país de cultura ocidental a manter esse sistema puramente patronímico, não havendo “sobrenomes” propriamente ditos, pois ele é trocado a cada geração. Várias outras culturas europeias adotavam esse sistema, que foi abolido em épocas distintas ao logo da História.

O nome antes do sobrenome

Outro fato curioso, é que embora os jogadores da seleção carreguem seus sobrenomes estampados no uniforme, a tradição linguística islandesa é de se referir às pessoas pelo primeiro nome, assim como ocorre no Brasil. Uma evidência é a lista telefônica da Islândia, organizada alfabeticamente pelos nomes.

Muitos intelectuais e jornalistas nórdicos tem pedido à Federação Islandesa de Futebol que troque os sobrenomes pelo primeiro nome nas camisetas oficiais, tudo para que seja seguida a tradição. O próprio Instituto da Língua Islandesa, equivalente a nossa Academia Brasileira de Letras, considerou que o uso do sobrenome vai contra a cultura local.

Em termos de regulamentação, a FIFA é indiferente em relação a como é feita a identificação de cada jogador. Apenas exige que esta esteja atrás da camisa nas fases finais das competições oficiais e que corresponda à folha de inscrição realizada previamente. Mas em momento algum menciona se o que deve constar é o sobrenome ou nome do jogador.

A questão dos nomes e sobrenomes na Islândia não só tem a ver com o patrimônio cultural, mas também com certas limitações impostas. Os nomes na ilha gelada são limitados a uma lista de 1.712 para homens e 1853 para mulheres. Qualquer nome colocado em uma criança, deverá estar nesta lista. Senão será considerado ilegal, assim como ocorre em países como Alemanha e Dinamarca. Isso facilita com que eles se repitam com facilidade.

O norueguês Verdens Gang criou uma ferramenta em seu site para que qualquer pessoa possa se sentir parte da seleção mais simpática do Copa do Mundo. Clicando aqui, você descobre como ficaria seu nome em islandês e qual seria o número de sua camisa caso fosse um dos 23 vikings que lutam pela taça do torneio mundial. Se você for homem, deixe acionada a opção “mann” em baixo dos campos em que você vai preencher seu primeiro nome e o primeiro nome do seu pai, respectivamente. Se for mulher, mude para “kvinne”.

Não era exclusividade islandesa

Nos países ibéricos, Portugal e Espanha, a desinência patronímica é o “-es” nos sobrenomes portugueses e “-ez” nos espanhóis.

Assim, “Rodrigo Antunes” era o Rodrigo filho do António. E o Nuno filho do Rodrigo era o “Nuno Rodrigues”. E o Marcos filho do Nuno era o “Marcos Nunes”. E o Vasco filho do Marcos era o “Vasco Marques”. E o Martim filho do Vasco era o “Martim Vasques” (ou Vaz). O Pedro filho do Martim era o “Pedro Martins”.

E assim sucessivamente até que em um determinado momento o patronímico se “congelou” e tornou-se um sobrenome como hoje conhecemos.

Na Itália, o sistema era um tanto mais complexo, mas há paralelos. A forma mais evidente é o uso da preposição “Di” (ou “De”). “Giovanni Di Luca” era filho do Luca. O Pasquale filho do Giovanni era “Pasquale Di Giovanni”.

Outra forma patronímica tipicamente italiana são os sobrenomes que terminam em “-i” (apenas uma parte deles, não todos!): na frase em latim, Pietro filho de Martino é “Petrus filius Martini” (caso genitivo). Com o tempo perdeu-se o “filius” e sobrou apenas o “Martini”.

De forma geral, pode-se dizer que a forma patronímica com “Di” ou “De” é mais comum no centro-sul da península itálica, enquanto a desinência “-i” é mais recorrente do centro (Úmbria, norte do Lácio, Toscana) até o norte.

Muitíssimos sobrenomes vênetos perderam o “-i” por influência das características fonéticas da língua vêneta, daí Martin, Pavan, Meneghel, Visentin etc. Lembrando que a desinência “-i” nem sempre era patronímica, muitas vezes originadas de outras motivações onomásticas.


Original: ¿Por qué todos los apellidos islandeses acaban en -son? (em espanhol)
Contribui para este conteúdo: Daniel Taddone.

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