Este objeto é considerado uma das grandes invenções do Século XX, pois serve para prender folhas de papel e além disso tem mais de mil outras utilidades, principalmente se desdobrado. Foi criado pelo norueguês Johann Vaaler e patenteado na Alemanha, é conhecido como clip (plural: clips) nos países de língua inglesa; no Brasil, deve ser chamado de clipe (plural: clipes).
Por quê clipe (clipes)?
A forma das palavras que usamos segue determinados moldes próprios ao nosso idioma (certamente diferentes dos moldes presentes no francês, no inglês ou em qualquer outra língua). Por exemplo: enquanto os vocábulos do inglês podem ter finais consonantais (get, cab, golf, proud, lag, stop, etc.), raras são as consoantes que podem figurar no final de um vocábulos do português: L; R; S, X ou Z (/s/); e as nasais M e N.
Quando um vocábulo de outro idioma é absorvido pelo nosso, uma das principais marcas dessa assimilação é assumir ele o nosso molde fonológico, passando a circular entre as palavras nativas como se fosse de casa. Por exemplo: não temos S formando sílaba sozinho em início de palavra; por esse motivo, as palavras estrangeiras que ingressam em nosso léxico recebem um E que lhes dá uma forma viável: score, vinda do inglês, vira escore; spaghetti, do italiano, vira espaguete.
Essa mesma vogal E, que é a grande “completadora” do português, vai entrar no final das palavras importadas que terminem em consoante: club, turf, chic e lord viram clube, tufe, chique e lorde. É comum entrar a vogal simultaneamente no início e no final: stress e snob, por exemplo, viram estresse e esnobe.
O pequeno clip, portanto, também ganhou este E final quando foi nacionalizado: um clipe, dois clipes. Sempre pode haver um pedante saudosista que faça questão de usar o vocábulo ainda no inglês; neste caso, vai ficar com um clip, dois clips. O estranho (para não dizer bizarro) é que costumamos dizer “um” clips!
Outra coisa: esta adaptação fonológica de clip para clipe não leva em consideração o sentido em que estamos usando o vocábulo. Vale também para o clipe musical (que Jô Soares chamou de “música para surdos”). É a mesma coisa: o vocábulo é o mesmo (o Aurélio registra a forma clipe para ambos os significados).